Projeto : Soja de Minas

Data : Maio/2011

Parcerias: FTPD  |  EMBRAPA  | EPAMIG

JUSTIFICATIVA

A partir dos anos 90, houve a constatação científica de que a soja é um alimento que possui compostos biologicamente ativos, que atuam na prevenção de doenças.  Resultados de estudos dietéticos têm evidenciado os efeitos da soja na redução do colesterol sangüíneo, de doenças cardiovasculares e nos sintomas do climatério, sendo uma alternativa à reposição convencional de hormônios.

Desta forma, tem se verificado um crescente e significativo interesse por essa leguminosa como fonte alimentar. No entanto,em grande parte do mundo,sobretudo no Brasil e nos países de origem africana e européia, a sua aceitabilidade é limitada, devido ao sabor característico que possui. A maioria dos produtos à base de soja disponível no mercado possui grande quantidade de aditivos, utilizados para mascarar o sabor desagradável da soja ao paladar, e, além disso, os preços dos produtos não são acessíveis a todas as classes sociais.

É de grande importância o desenvolvimento de tecnologias que favoreçam a disponibilidade de cultivares de soja de melhor sabor, aparência e com elevado valor nutricional, além de possuírem adaptação às condições de cultivo. O município de Uberaba, bem como a região do Triângulo Mineiro, é o maior produtor de grãos do estado de Minas Gerais, demonstrando assim sua potencialidade. A viabilidade da soja, como atividade econômica em Minas Gerais, foi obtida graças às novas tecnologias desenvolvidas por empresas de pesquisa. Dentre estas, pode-se destacar a parceria entre a EMBRAPA, EPAMIG e Fundação Triângulo, especialmente na área de melhoramento genético, que contribuíram decisivamente para o aumento da produtividade. Dentro deste programa, há uma linha de pesquisa para o desenvolvimento de cultivares de soja específica para a alimentação humana.

Duas variedades de soja foram desenvolvidas, uma de tegumento (casca) amarelo (BRSMG 790A), que possui um paladar diferenciado em relação à soja comum, e outra de tegumento marrom (BRSMG 800A), além do sabor mais agradável. A BRSMG 790A possui tempo de cozimento menor e maior teor de isoflavonas em relação a cutivar ‘Conquista’, que ainda é a mais utilizada na indústria de alimentos à base de soja. Esse produto inovador pode ser utilizado diretamente na dieta, como na forma de saladas, ou na indústria de alimentos, o que reduziria os gastos com aditivos para melhorar o sabor dos produtos a base de soja.

Acredita-se que com estas inovações seja mais fácil a introdução destes produtos na dieta em grande parte da população mundial. Como a soja é um alimento altamente rico em proteínas (40%), com índices que chegam ao dobro do feijão, a combinação da soja marrom e feijão,e das outras formas de consumo da variedade de tegumento amarelo,agregaria elevado valor nutritivo à mistura, com grandes benefícios aos consumidores, pela sua superioridade em relação ao feijão e a outros vegetais.

Por ser uma alternativa protéica de baixo custo, de alta qualidade e sabor muito mais agradável do que as demais cultivares,estas variedades se diferenciam das demais propiciando a sua comercialização com valor agregado e não como commodity,auferindo assim maior receita para  os produtores credenciados, bem como para a balança comercial do Estado de Minas.

OBJETIVO GERAL

OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste projeto é internacionalizar a SOJA DE MINAS DE MINAS como alimentação humana,promovendo sua aceitabilidade e seu consumo,e contribuir para o fomento da pesquisa e a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

 A soja (Glycine max L. Merrill) é uma leguminosa de grande importância mundial, sendo originária da Ásia, e seu cultivo e domesticação teve início antes da Era Cristã. Foi introduzida no Brasil, no Rio Grande do Sul, por volta de 1935. A partir de 1951, ocorreu a expansão desta leguminosa para os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Tocantins e demais regiões ao Norte e Nordeste do país (Sedyama et al., 2009). Em 2006, a produção de soja no Brasil foi estimada em 56 milhões de toneladas, correspondendo a 24,52% da produção mundial (Embrapa, 2006).

No Brasil, a soja é considerada a segunda cultura agrícola em produção de grãos, superada apenas pelo milho. Porém, devido as suas características de má digestibilidade e pelo sabor inadequado ao paladar dos brasileiros, o consumo de grãos e farelo tem sido muito restrito na alimentação humana, sendo apenas o óleo de soja utilizado com maior freqüência na culinária brasileira (Vello, 2000).

Para reverter este quadro, é necessário o desenvolvimento e divulgação de cultivares com melhores características, tanto visuais como de qualidade de grãos. No consumo “in natura”, como em saladas, por exemplo, a soja deve possuir algumas características diferentes da soja convencional. Segundo Vello (1992), o grão deve possuir maior teor de proteína, melhor digestibilidade, maior teor de aminoácidos (metionina e cistina), menor teor de óleo, cor clara do tegumento e hilo, menor teor de ácidos graxos insaturados (linoléico e linolênico) e de lipoxigenases. A ação oxidativa de três enzimas lipoxigenases (Lox1, Lox2 e Lox 3) sobre os ácidos graxos poliinsaturados leva a formação de aldeídos, causando o sabor característico da soja, o que leva ao consumo reduzido desta leguminosa pelos ocidentais. A indústria alimentícia busca a redução desse sabor por meio da inativação térmica dessas enzimas, porém, é um processo oneroso e de baixa eficiência (Teixeira et al., 2009).

Do ponto de vista nutricional, a soja possui cerca de 30 a 45% de proteína nos grãos, sendo uma das leguminosas que se destaca nesse constituinte (Nielsen, 1991). Porém, o valor nutritivo de uma proteína depende da composição, digestibilidade, proporção, biodisponibilidade dos aminoácidos essenciais e ausência de propriedades antinutricionais (Pellet & Young, 1980; Nielsen, 1991; Sgarbieri, 1996).

As proteínas de origem animal apresentam digestibilidade elevada e as de origem vegetal, valores inferiores (abaixo de 80%). Vários fatores contribuem para a menor digestibilidade das proteínas nos vegetais, tais como: compostos fenólicos, componentes da fibra alimentar, pigmentos, produto da oxidação de ácidos graxos insaturados, inibidores de enzimas digestivas, estrutura das proteínas, complexo de proteína com amido, hemicelulose, minerais e outras proteínas, formando derivados protéicos menos digeríveis (Singh & Jambunathan, 1981; Deshpande & Nielsen, 1987; Sgarbieri, 1996).

A soja tem grande potencial como alimento não somente pelo elevado teor protéico e de qualidade considerada, mas também pelo alto conteúdo de lipídeos, caracterizando-se como fonte energética, e ainda pela presença de determinadas vitaminas e minerais (Camacho et al., 1981).             O óleo da soja é rico em ácidos graxos essenciais, os poliinsaturados ácido linoléico 18:2 (Δ9,12) (ω-6) e ácido linolênico 18:3 (Δ9,12,15) (ω-3), que exercem importantes papéis fisiológicos (Voss, 1994).

As leguminosas apresentam, em sua maioria, além da sua porção nutricional, outra porção considerada antinutricional, que quando consumidas cruas ou inadequadamente processadas, podem provocar efeitos fisiológicos adversos ao homem ou reduzir a biodisponibilidade de determinados nutrientes (Rackis, 1974; Liener, 1994). Desses fatores antinutricionais, os mais importantes são os inibidores de proteases, denominados inibidor de tripsina de Kunitz e o de Bowman-Birk (Wolf & Cowan, 1975). Quimicamente, os inibidores de proteases são proteínas anti-nutritivas e a especificidade desses inibidores não está necessariamente restrita à tripsina, mas também pela capacidade de inibir outras serino-proteases, tais como quimotripsina e elastase. A presença desses inibidores ativos no organismo de espécies animais impede a ação das enzimas responsáveis pela digestão das proteínas, provocando em animais uma hiperestimulação de enzimas pelo hormônio colecistoquinina (CCK), levando a uma hipertrofia (aumento do tamanho das células) e hiperplasia (aumento do número de células) do pâncreas. As enzimas digestivas secretadas são eliminadas nas fezes, representando uma perda endógena considerada de aminoácidos sulfurados, aminoácidos esses já deficientes nas proteínas da soja (Liener, 1994).

A qualidade nutricional das leguminosas é melhorada mediante tratamento térmico para inativação dos fatores antinutricionais (Liner, 1994; Genovese & Lajolo, 2000). Nelson et al. (1979) inativaram 94% do inibidor de tripsina com 10 minutos de cozimento de grãos de soja e, quando as amostras foram submetidas a 25 minutos, mostraram 100% da eliminação do inibidor de tripsina.

O calor intenso para destruição do inibidor de proteína não é necessário, pois diminui a taxa de eficiência protéica, conseqüentemente, há perda do valor nutricional e alterações nas propriedades funcionais da soja. A maioria dos produtos comerciais de soja retém de 5 a 20% da atividade inibitória original (Liener, 1994).

Com finalidade de reduzir custos no processamento de soja e diminuir os fatores antinutricionais, cultivares de soja com baixas atividades de inibidor de tripsina, ausência do inibidor Kunitz, ausência do inibidor de Bowman-Birk e livres desses dois inibidores de tripsina devem ser desenvolvidas (Miura et al., 2001; Miura et al., 2005).

Deste modo, universidades, como a Universidade Federal de Viçosa e instituições de pesquisa, como a Embrapa em Londrina, vêm desenvolvendo trabalhos de melhoramento de soja para a alimentação humana (Teixeira et al., 2009).

O programa de melhoramento genético da parceria Embrapa, Epamig e Fundação Triângulo, vem trabalhando para o desenvolvimento de cultivares específicas para o estado de Minas Gerais. Diversas cultivares já foram lançadas e algumas estão no mercado há mais de 15 anos, como exemplo, pode-se citar a cultivar ‘Conquista’ (MG/BR-46). Possui também uma linha de pesquisa para o desenvolvimento de cultivares especiais para alimentação humana. Deste programa, duas variedades foram desenvolvidas, uma de tegumento (casca) amarelo (BRSMG 790A, Figura 1), que possui um paladar diferenciado em relação à soja comum, e outra de tegumento marrom (BRSMG 800A, Figura 2), também de paladar superior.

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Figura 1. Grãos cozidos da cultivar de soja BRSMG 790A

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Figura 2. Grãos cozidos da cultivar de soja BRSMG 800A

A BRSMG 790A possui tempo de cozimento menor e maior teor de isoflavonas e carboidratos totais em relação a cutivar ‘Conquista’, que ainda é a mais utilizada na indústria de alimentos à base de soja (Arantes et al., 2008). Esse produto inovador pode ser utilizado diretamente na dieta, como na forma de saladas, ou na indústria de alimentos, o que reduziria os gastos com aditivos para melhorar o sabor dos produtos à base de soja.

A BRSMG 800A pode ser consumida isoladamente na forma de “soja tropeira” ou em combinação com o feijão Carioquinha, incrementando o valor nutricional da mistura. Estudos realizados no IF Triângulo por Pereira et al. (2009) mostraram que a “soja tropeira” foi bem aceita pelos provadores, cuja nota foi 7,9 numa escala hedônica variando de 1 (desgostei muitíssimo) a 9 (gostei muitíssimo). Avaliações sensoriais de preparações com soja marrom (grão cozido inteiro) e feijão Carioquinha (grão cozido e triturado) revelaram que as formulações com 30 a 50 % de feijão tiveram maior aceitação pelos provadores (Reis et al., 2009). Misturas de soja e feijão Carioquinha em diferentes proporções (Tabela 1) resultaram no incremento do teor de proteínas (Reis et al., 2009). As combinações de soja marrom e feijão carioquinha podem ser ideais para a melhoria da qualidade de proteínas, sendo possível aumentar a quantidade de protéica para a população de baixa renda que tem como principal fonte o feijão.

RESULTADOS

Tabela 1- Valores médios de proteína (%) da soja BRSMG 800A preparada tipo “tropeiro” e acrescida de feijão carioquinha. Uberaba, 2009.

 

Preparações com soja BRSMG 800A Teor de Proteína(%)
Feijão cozido 24,72 100
Soja cozida 43,26 175
Tropeiro 37,58 152
10% de feijão 39,00 158
20% de feijão 38,10 154
30% de feijão 35,41 143
40% de feijão 33,67 136
50% de feijão 31,63 130

 

Principais produtos a base de soja a serem desenvolvidos:

  1. Soja cozida

A soja de tegumento amarelo será cozida, em tempos diferentes, para se indicar o melhor tempo de cozimento. Serão realizados pratos frios (saladas) e quentes para a divulgação da soja amarela.

A soja marrom será cozida isoladamente e/ou juntamente com o feijão, para o preparo de pratos quentes, como o preparo do “feisoja”, “soja tropeira”, entre outros.

A soja será utilizada como matéria prima para produção de outros produtos, como biscoitos, farinha de soja, patê, soja torrada, pães, bolos, etc..

  1. Leite de soja e derivados

Com o equipamento de extração de leite de soja, será produzido o extrato de soja líquido para ser utilizado puro, misturado com frutas (para dar sabor), produzir iogurte de soja, Tofú, sorvete e outros derivados.

 

ALCANCE DOS RESULTADOS

  • Divulgação das duas cultivares de soja (BRS MG 790A e BRSMG 800A) para o consumo humano.
  • Criar e divulgar produtos e receitas, para que a população insira a SOJA no cardápio diário, contribuindo para o bem estar e a qualidade de vida brasileira.
  • Aumentar a produção da soja para alimentação na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
  • Incentivar novos desafios ao programa de melhoramento genético da soja para alimentação humana

 

DESCRIÇÃO DE TODOS OS POSSÍVEIS IMPACTOS E PRODUTOS A SEREM PRODUZIDOS AO FINAL DO PROJETO

  • O principal impacto deste projeto é a popularização da soja para o consumo humano, permitindo que as pessoas mudem a concepção de que a soja é um alimento apenas para animais e que possui sabor desagradável.
  • Criar o hábito de consumir a soja e seus derivados entre crianças e adolescentes, formando um público consumidor a médio e longo prazo.
  • Reduzir a desnutrição de população de baixa renda, com o consumo da “soja de minas” mistura mais nutritiva do que o feijão tradicionalmente consumido.
  • Conscientização de que a soja é um alimento que deve ser introduzido na dieta básica da população, para proporcionar benefícios a saúde e aumentar a qualidade de vida dos consumidores, por ser a soja considerada um alimento funcional, reduzindo os riscos de algumas doenças crônicas e degenerativas. É rica em proteínas de boa qualidade, possui ácidos graxos poliinsaturados e compostos fitoquímicos e é uma excelente fonte de vitaminas.
  • O aumento do consumo da soja para alimentação humana irá contribuir para a implementação de plantios comerciais de cultivares específicos para alimentação humana.
  • Redução dos aditivos químicos, para melhorar o sabor, com a utilização das cultivares com melhor sabor.